"A Câmara de Setúbal tem uma das políticas sociais mais inteligentes desta ditosa pátria. Essa política, caso fosse aplicada a todas as cidades, ajudaria a diluir um daqueles défices invisíveis que não têm direito a power point e a troikas: a solidão dos velhos, o dia-a-dia desenxabido dos reformados, a sensação de inutilidade que habita a cabeça de muitos idosos. Que política é essa? A troco de uns dinheirinhos de quermesse, a Câmara de Setúbal transformou um enorme grupo de reformados em "patrulheiros", isto é, polícias com bengala que andam pelo centro da cidade a garantir mais segurança e limpeza.
Se a Madame Zazá aparece com o seu Lulu a defecar na via pública, os "patrulheiros" (identificados com colete e cartão) colocam a senhora e o defecador na ordem. Se alguém perde as chaves do carro, estes escuteiros geriátricos colocam as ditas na gavetinha dos perdidos e achados. E, acima de tudo, as patrulhas do Senhor Joaquim e do Senhor Zé criam segurança. Após a implementação desta política, o centro de Setúbal ficou mais seguro. Mas como é que um velhote pode dissuadir a pequena bandidagem e o vandalismo? Para começo de conversa, estes velhotes ainda têm pujança para dar um berro em arrumadores e demais fauna com menos de 40kg. Depois, não custa perceber o poder dissuasor de um velhote junto da bandidagem juvenil. Se bater num polícia alto e espadaúdo, um rufia de 15 anos tornar-se-á no herói do bairro. Mas, se bater num velhote, esse rufia será apenas isso, um rufia. Estes velhotes não têm o poder legal dos polícias, mas têm autoridade, a melhor forma de poder.
Além de ter ficado a saber que um velhote de bengala pode ser mais eficaz do que um polícia, a cidade de Setúbal descobriu que uma política simples e barata pode fazer milagres ao nível do civismo. O tal civismo é construído desta forma, na rua, no parque, no bairro, ou seja, civismo é o nome chique de bairrismo. Aqueles "patrulheiros" sadinos são bairristas, e fazem aquelas patrulhas por amor à sua terra. No processo, deixam a cidade mais segura, mais limpa e (perdoem-me o mel) mais humana.
Lisboa precisava de uns polícias assim. "
Henrique Raposo
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